sábado, 24 de julho de 2010

A cabeça do Brasileiro


Oi, pipou! Saudades.
Recentemente recebi uma piada no email, chamada "a tartaruga em cima do poste", enviado pela Suzi, que fazia uma analogia (muito engraçada e sarcástica) sobre o Lula no poder: não se sabe como chegou lá, sabe-se que não foi só, não se sabe o que faz lá, não se sabe como irá descer, mas é preciso que ele desça e que o impeçam de voltar a subir. rsrsrsrs! Me desculpem os que pensam diferente. É só uma piada e não uma pregação.
Mas fiquei pensando sobre isso. A todos os lugares que vou, nos ambientes em que
convivo e frequento - organizações, escolas, consultorias, com pessoas de escolaridade superior e residentes nas capitais da região Sudeste - uma significativa parcela destes ambientes fala mal de Lula. Reclamam. Dizem que ele é isso e aquilo...

Independente de minha opinião particular, o fato é que, apesar do chororô deste segmento, o cara tem quase 80% de aprovação!!! Nunca antes na história deste país. Eu, continuo estarrecida com a tartaruga na árvore. E com os índices de popularidade do cara. Mas, o fato é que por que dois segmentos tão distintos? Duas realidades tão fortes e antagonicas?

Aí, me lembrei de Alberto Carlos Almeida e seu livro "A cabeça do Brasileiro",ed Record, 2007, na Introdução - Os dois Brasis: a luta entre o arcaico e o moderno, que diz assim:
" A Pesquisa Social Brasileira mostrou que Roberto DaMatta está certo em muitas de suas afirmações: O Brasil é hierárquico, familista, patrimolialista e se encaixa em vários outros adjetivos que significam arcaísmo, atraso. Um dos cientistas sociais mais lidos e citados no Brasil, suas interpretações, como um espelho, ajudam os brasileiros a enxergar, a tomar consciência de como são. Porém, há uma ressalva importante a fazer. O país não é um bloco monolítico, mas uma sociedade profundamente dividida.
O Brasil, na verdade, são dois países muitos distintos em mentalidade. Dois países separados, num verdadeiro aphartheid cultural. Os dois países de que fala Jacques Lambert, retratados nessa pesquisa de forma um tanto diferente. O que está em jogo são os valores em conflito, e, por conseguinte, uma sociedade em conflito. Enquanto a classe baixa defende valores que tendem lentamente a morrer ou a se enfraquecer, a classe alta mantém-se alinhada a muitos dos princípios sociais dominantes nos países já desenvolvidos.
Não há um lado certo e outro errado. Há, sim, um lado dominante em lenta erosão - o das classes baixas - , e outro ainda pouco presente, mas que tende a se fortalecer à medida que a escolaridade média da população aumentar. Sim, porque entre os fatores que determinam esse abismo entre brasileiros, um dos mais importantes é a escolaridade. é a educação que comanda a mentalidade. Quem passou pelos bancos escolares de uma universidade e obteve diploma tende a ser uma pessoa moderna: impessoal; contra o jeitinho brasileiro*; contra punições ilegais, como linchamentos e o estupro, na cadeia, de criminosos condenados pelo menos crime; refratária à crença de que o destino está completamente nas mãos de Deus; e a favor de confiar mais nos amigos.
Por outro lado, é provável que alguém que não tenha tido a mesma oportunidade de obter o diploma de um curso superior pense essas mesmas questões segundo uma ótica diversa, pré-moderna ou arcaica: personalista; a favor do jeitinho brasileiro e do cumprimento da lei de Talião, aquela que faz vales o "olho por olho, dente por dente"; e que defenda a crença de que o destino dos homens está nas mãos de Deus.
Este abismo pode tornar-se ainda maior se ao fato de ter ou não ter ensino superior somarmos outras variantes: trata-se de homem, jovem, residente da capital de um estado na região Sul ou Sudeste. Especialmente se, do outro lado, estiver alguém que sequer tenha completado o nível fundamental da educação formal, se for do sexo feminino, de maior faixa etária e residente em alguma cidade que não seja capital situada na região Nordeste. Neste quadro, possivelmente a distância entre modernidade e arcaísmo será imensa.
No entanto, como a maior parte da população brasileira tem escolaridade baixa, pode-se afirmar que o Brasil é arcaico.
(...)
É essa a conclusão que se pode tirar das diversas tabelas elaboradas a partir dos questionários aplicados pela Pesquisa Social Brasileira. Elas retratam a enorme distância que separa - em termos de visão de mundo, mentalidade, cultura - os dois grupos sociais em que nós, brasileiros, nos dividimos. Somos diferentes em tudo".

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