quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Ter as mãos vazias

"Na obra de Castañeda, aprendi a importância de caminhar com as mãos vazias. Este é o caminhar da leveza, equivalente a ter a mente vazia. Geralmente, caminhamos carregando todos os nossos tesouros, nossos pertences, álbuns de fotografias, nossos diplomas e experiências. Passado e futuro pesam, como chumbo, nas nossas sofridas mãos. ter as mãos vazias é sacudir, como pó da estrada, os entulhos do passado e do futuro; é o desprender-nos de todo autoritarismo exterior: nossos venerados mestres, com suas pesadas escrituras, métodos e técnicas. É também desprender-se de todo autoritarismo interior: nossas veneradas memórias, as assombrações dos diálogos internos e a eloquencia das experiencias vividas. Somos livres apenas quando nada temos a defender. Nenhuma bandeira, nenhuma metralhadora, o que deixa nossas mãos livres para a tarefa, nada fácil, de nos fazermos criação permanente. Era uma vez um americano turista que, estando em Israel, foi visitar um sábio rabino. Lá chegando, espantou-se com aquela casa vazia; nenhuma mobília, nenhum enfeite, nenhum quadro na parede, nem mesmo cadeiras e mesas, nem mesmo cama e armários. Sem poder conter a sua perplexidade, indagou: "onde estão as suas coisas, meu Senhor?". "E onde estão as suas?" , contraperguntou o velho rabino. "Ora, estão na minha casa, no meu país de onde venho; eu estou aqui só de passagem", respondeu o turista. "Eu também!", sentenciou o mestre. A consciência de que estamos aqui de passagem torna a existência uma bela e valiosa aventura. Chegamos de mãos vazias, iremos de mãos vazias. Só levamos conosco o passaporte das nossas ações." Roberto Crema, em Saúde e Plenitude, Ed Summus. Este livro tesouro me foi dado de presente pela amiga irmã Maritza em julho de 2001. Na época não tinha condições de entender seus ensinamentos. 11 anos depois, ei-lo aqui, iluminando nossa jornada. Me remete a outra passagem do mesmo livro " E não se pode apressar o encontro. Cada pessoa tem seu ritmo próprio, que precisa ser respeitado, pois há nele uma sabedoria implícita. Violentar este ritmo é equivalente a arrancar, prematuramente, a casca de uma ferida"
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