domingo, 7 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher - reflexões



Recebi alguns convites de empresas para realizar palestras ou trabalhos de integração/motivação para suas colaboradoras nesta segunda feira próxima, em comemoração ao dia Internacional da Mulher. Terá distribuição de rosas, de presentes, buffet de café da manhã, serenata, diretores na porta de entrada cumprimentando uma a uma.... juro que me senti mal! Por que um dia dedicado à Mulher? Por que homenagear a mulher trabalhadora neste dia? Se em todos os outros 364 dias do ano nada ou bem pouco do que se diz e faz neste Dia 08/03 é praticado? Talvez esteja sendo radical ou ranzinza. Tem um simbolismo. É um marco para ajudar a lembrar de tudo o que já conquistamos, mas do quanto ainda temos por conquistar.

Desde 1857 quando 130 tecelãs em NY foram trancadas e queimadas vivas dentro da fábrica porque reivindicaram condições melhores de trabalho e equiparação salarial aos homens; até quando em 1975 a ONU oficializou esta data como o Dia Internacional da Mulher para homenagear e lembrar da luta daquelas trabalhadoras, temos tido muitas conquistas: 1932, no Brasil, o direito ao voto; o direito ao divórcio; o direito a ser considerada com igualdade no casamento e não mais o marido o "cabeça da família"; o direito a frequentar escolas militares, a ser juíza de futebol, ser piloto de avião, ser estivadora no cais do porto, ter ou não filhos, casar como opção, direito a frequentar a universidade, a cursar medicina, a ser imortal na academia brasileira de letras, a ter orgasmos.... Foram muitas as conquistas! Mas não para todas. Falta muito.
Temos que nos conscientizar que o que falta não cairá do céu. Não virá, por beligerância ou por caridade. É uma luta de cada uma de nós em seu próprio círculo de influência. É a consciencia de que temos direito, não somos menos. Muitas de nós não acreditam nisso ainda! Não quer dizer que lutas de classe e pressões políticas não sejam importantes. São, mas não espere por elas. Lute suas próprias lutas.

Um resumo das exigências apresentadas pelas mulheres irlandesas no manifesto O Que as Mulheres Querem do Próximo Governo Irlandês, de 2007, ano eleitoral naquele país, poderia ser nossa.

A Revista Cláudia conversou com 100 líderes femininas de todos os setores da sociedade para detectar as metas urgentes para os próximos anos. São sete os temas que mais preocupam. Por que não pegamos carona na iniciativa das irlandesas ( que fazem esta agenda desde 1994) e não passamos a observar melhor entre nossos candidatos nas próximas eleições o que eles pensam sobre as questões do gênero?

Veja aí o resumo dos sete pontos :

1) Oportunidades e salários iguais- uma mulher ganha cerca de 30% menos que um homem na mesma posição, com a mesma escolaridade. Uma negra ganha 41% menos que uma branca. Tanto que despencamos do 73º para o 82º lugar no ranking Desigualdade Global de Gênero 2009, do Fórum Econômico Mundial.

2)O fim da violência - Faz só 4 anos que a Lei 11.340 (Lei Maria da Penha)entrou em vigor. É considerada uma das três melhores do mundo, mas o Brasil não tem condições de assegurar a proteção necessária e prevista na lei à mulher agredida.

3) Mais mulheres no poder - somos 51% da população, mas na Câmara dos Deputados apenas 8,57% são mulheres; no Senado, só 11%; 3 Senadoras, 8% nas prefeituras e 12,51% nas câmaras de vereadores.
Nas empresas privadas apenas 20% do comando é feminino, quando 42,43% da população economicamente ativa é mulher.

4) Maternidade é opção - vivemos num Estado laico, mas médicos e religiosos decidem, por questões filosóficas ou religiosas se a mulher pode ou não ter filhos. Não sou a favor do aborto! Mas, quem disse que o que eu penso é a verdade absoluta? Outras pessoas tem o direito (isso é democracia) de pensar diferente e o governo legisla para todos. Já que o Estado é laico, "a discussão sobre a descriminalização da interrupção da gravidez deve ser enfrentada fora do âmbito repressivo e excludente,com fomento à educação sexual reprodutiva e acesso pleno aos meios anticonceptivos, incluindo a pílula de emergência" diz valéria Pandjiarjian, responsável pelo programa de litígio internacional do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa da Mulher (Cladem).

5)Igualdade em casa - é ainda de responsabilidade da mulher a casa, os filhos, os animais e os doentes. São 20,9horas semanais de seu tempo dedicados à casa, contra 9,2h dos homens! 87,9% de nós tem dupla jornada. Não há um consciência de que a maternidade é uma função social e, portanto, responsabilidade também do pai/ homem.

6) Educação não sexista - "enquanto homens e mulheres não adotarem posturas igualitárias e não ensinarem as crianças a ter consciencia respeitosa, as leis e políticas públicas não terão resultado" (Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da UFRJ).

7) Saúde para todas - jornada dupla, má alimentação, sedentarismo igual a doenças cardiovasculares. Feminização da aids e a vergonha nacional: mortalidade materna!54 mulheres por 1000 nascidos vivos. Nos países ricos é de 6 a 20. 92% dos óbitos poderiam ser evitados com cuidados preventivos baratos como medir a pressão arterial...

Alguns bons livros para conhecermos melhor a trajetória de nossas lutas:

* História das Mulheres no Brasil - Mary Del Priore
* Histórias Extraordinárias- Considerações sobre a Mulher - Wilma Keller
* 100 Mulheres que mudaram a história do mundo - Gail Meyer Rolka

5 comentários:

  1. Um belo texto e convidativo para reflexão.
    Parabéns vc Lucimar e todas as mulheres
    Jefferson

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  2. Muito boa a reflexão...
    Se dizemos que somos todos iguais, por qual razão há o dia do negro, dia do índio e o dia da mulher? Será que é somente em um dia do ano que devemos ser reconhecidos como seres humanos? Acrescentaria na lista de leitura "O segundo sexo" de Siomone de Beauvoir.
    Grande abraço,
    Lívia

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  3. Olá Lucimar,
    Gostei de suas reflexões e por coincidência, acabo de participar do Forum Mulher Claudia, tendo como tema "o que as mulheres querem mais no trabalho, na família e na vida pessoal" com Mary Del Priore, Contardo Calligaris e Tania Kalill. O debate enveredou por questões amenas e mais comuns ao contingente urbano, sendo mais aprofundado pela Mary, que além de trazer dados e realidades mais abrangentes sobre o universo feminino do Brasil, lembrou das questões históricas da nossa sociedade patriarcal, que vem mudando muito, sem contudo deixar de considerar que somos nós, mulheres, que formamos os homens, como eles estão hoje. É legal essa reflexão! Ela também abordou a questão da competição, entendendo ela, o que concordo, que o melhor seria pensar em termos de complementaridade dos gêneros do que em imaginar-se uma igual e que temos muito o que caminhar nesse sentido e mais ainda nessa sociedade de famílias com novas configurações.
    É isso! Maria Praciano

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  4. Lu, com esta reflexão vc disse tudo e mais um pouco. Não precisamos ser reconhecidas só um dia por ano...aliás, não precisamos ser reconhecidas por ser mulheres. Se de fato fossemos todos iguais, seriamos todos diluidos numa grande massa e seriamos tão somente....a humanidade. bjs

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  5. Achei super legal!!!!abraço

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