segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A neurociência e a neuroliderança - e suas contradições!

Oi, PessoALL!
Estou aqui lendo uma matéria da Melhor Gestão de Pessoas, com o David Rock, consultor americano, criador do conceito de neuroliderança*, onde ele diz que "acredito que o coaching** consiste em aperfeiçoar o pensamento das pessoas. E para fazer isso, você precisa minimizar a emoção...".

Na matéria da Veja, da semana passada, uma entrevista com António Damásio - considerado um dos neurocientistas mais respeitados da atualidade - onde ele afirma "a emoção modula constantemente a forma como os dados e os acontecimentos são guardados na memória". e segue, "não há memória ou tomada de decisão neutras".

Ora, se até a neurociência já descobriu e mapeou, no cérebro, as áreas responsáveis pelas emoções e já temos certeza de que a memória não é linear e neutra como um arquivo de computador, mas armazenada de acordo com as emoções; leia-se todas as lembranças são associadas a emoções(boas ou más), de que adiantam técnicas para "neutralizar" as emoções na hora em que, como líderes, temos que tomar decisões ou dar feedbacks? Como pais ou mães, temos que educar os filhos? Como profissionais temos que confrontar colegas ou superiores?

Na minha experiência profissional, conclui que não adianta trabalhar apenas a dimensão conhecimento, racional. As pessoas sabem o que é o certo e o que é preciso fazer. O difícil é fazer. Por que? Porque as emoções são abafadas, não pesquisadas, não se investe em auto-conhecimento. Se não reconheço (e conheço) minhas emoções, como tomar decisões "neutras"? Então, um bom processo de coaching e de treinamento, precisa abordar a emoção. "O que isso lhe causa?" "Como você se sente?" "Por que acha que isso te causa esta emoção?" O que deste registro de memória não se aplica mais nesta circunstância?", "O que você poderia ou desejaria mudar?", "como pensa que poderá fazer esta mudança?" Estas e outras perguntas, ajudarão às pessoas a tomarem consciência de como as emoções estão regulando sua vida. Só assim épossível mudar o padrão. É vital tocar na emoção!
Então, cuidado com processos e treinamentos que abordem apenas o conhecimento, o racional. Isso não muda comportamento.

Grande beijo e aguardo sua opinião.

*"é essencialmente o estudo daquilo que ocorre no cérebro quando tentamos realizar tarefas que envolvem liderança, como tomar decisões, resolver problemas, regular emoções, colaborar com os outros e promover mudança"
** do frances, "cocheiro", aquele que ajuda a guiar a carruagem. Trata-se de uma técnica, um tipo de "terapia" profissional que visa a aprimorar as habilidades profissionais, através de ajuda de profissional qualificado.

4 comentários:

  1. É muito vazio pensar no processo de coaching sem emoções. O que eu penso é que devemos achar saídas saudáveis usando as emoções como gancho, de uma forma adequada e que reflita o real desejo de quem está no processo. Se fosse tão impessoal e processual assim, eu tomava um chá de coaching de gerenciamento de tempo só para administrar melhor as minhas tarefas... o que é surreal. Abraços a todos.

    ResponderExcluir
  2. e o ser humano consegue NEUTRALIZAR EMOÇÕES?
    conseguimos a muito custo CONTROLAR, mas o estouro vem alí na frente.
    é muito dificil trabalhar com gente temperamental, ou pior, destemperada! daquelas que v não sabe o que vai sair da boca e qual reação terá.
    pior ainda é trabalhar com gente fria e impassivel, daquelas que vc não lê o que se passa na mente dela, daquele tipo em que vc tem que pisar em terreno minado o tempo todo.
    acho que a emoção cabe em todo lugar.
    mesmo pq se vc trabalha gostando do que faz, motivado, vc fica melhor , é ou não é?
    saber ser equilibrado é uma qualidade da pesoa, melhor ainda quando ela lidera um grupo.
    mas as emoções regem nossas memórias!
    uma certa musica ou um cheiro, um local, um rosto, tudo isos pode desencadear uma serie de memorias, de recordações que só nos fazem bem.
    é como se estivessemos abrindo a gaveta em que o momento foi guardado, e revivendo-o novamente, aspirandoo o perfume daquela vivencia.
    bjs
    lilly
    http://coisadelilly.wordpress.com
    http://blogdareforma.wordpress.com

    ResponderExcluir
  3. Uma das principais competências que compõem a NeuroLiderança (MR) é o que David Rock chama de Regulação Emocional (eu prefiro domínio emocional). Posto que a maioria dos comportamentos inicia-se e ocorre, e frequentemente se extingue, sem a participação da mente racional consciênte (Libet), movidos pelo sistema límbico (cérebro emocional), o "controle emocional", ao qual refere-se Lilly aqui acima, função do cérebro racional (cortex ventro-lateral) não adianta muito. Por isto "o estouro vem lá na frente". Controle visa oprimir, abafar uma emoção. Não funciona muito bem. "Domínio emocional", ao contrário, visa prevenir, evitar o surgimento/crescimento da emoção. Existem exerícios específicos para seu desenvolvimento.(que os Buddhistas chamam de "abrir a Manodvara"). Esses exercícios permitem adquirir a competência de domínio emocional que por sua vez permite desenvolver competência comportamental (capacidade de escolher seus comportamentos), crucial para o líder.

    http://neurolideranca.wordpress.com/2010/02/15/em-prol-do-dominio-emocional/

    ResponderExcluir
  4. Oi, Carlos, obrigada por sua contribuição. De fato, a revista de onde me baseei para comentar o tema, diz que o David Rock é americano. Confesso que procurei referência no Google, mas não encontrei. Fica então a correção.
    Grande abraço!

    ResponderExcluir

Obrigada por compartilhar conosco sua opinião!