quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Melhorando a Comunicação


Olá, meus queridos! Ando sumida e com saudades. Mas, a gente inventa tanta coisa pra fazer, que tem horas que se pergunta "para quê?"... Quanta pressa! Me lembra o Lobão "melhor viver dez anos à mil do que mil anos à dez", será? Tenho tido vontade de escrever sobre tantas coisas, mas uma delas é sobre as inversões de valores, as mudanças de paradigma, a crise de identidade dos tempos pós modernos... na falta de inspiração e material mais estruturado, vou ruminando!

O tema de hoje junta um pouco desta vontade, mais uma experiência recente vivida em uma grande multinacional e umas leituras sobre gentileza no mundo do trabalho, bons lugares para se trabalhar... misturando tudo isso, aí vai! Aguardarei seus comentários.

A demanda da área de Treinamento desta tal grande multinacional era para um curso de Comunicação, de 8h. Vamos imaginar o seguinte diálogo com o demandante do curso, eu pergunto "quem é o Público alvo?" Ele responde "variado, já que lançaremos o tema na intranet e as pessoas fazem a auto inscrição". Eu: "não há nenhum pré-requisito?", Ele: "Não". Eu: "porque vocês estão solicitando este tema? Há algum sinal, indicador de que seja necessário melhorar algum aspecto específico da comunicação e em que nível? Porque comunicação é um tema amplo e cabe muita coisa". Ele, já impaciente: "Por isso mesmo, é um tema relevante. O que seria do mundo de hoje sem comunicação? Nossa recomendação é que seja um curso dinâmico, com muita vivência e exercícios. Nosso público é muito crítico e não gosta de cursos maçantes. Outro ponto, me traga novos consultores. O pessoal gosta de novidade". Vejam que situação! O cliente não quer saber "o que" ou o "porque" das coisas. Quer apenas o "como". Tendo um bom "como", serve qualquer "o que", percebe? Isso é viver "dez anos à mil". Muito "como" (rápido, empolgante, que tire o fôlego, que desafie...). Não estamos querendo discutir ou pensar nos nossos "porques".
Daí vai, lá na sala de aula tinha de estagiário à gerente de projetos, de assessores jurídicos à analistas de atendimento,num total de 20 pessoas, cada um com suas realidades e necessidades específicas para serem TODAS alinhadas e tratadas em 8h com muito "como". Levanto às expectativas do grupo: "o que vocês desejam obter deste curso? O que querem ou precisam melhorar, aperfeiçoar, modificar?" Cara de paisagem é a resposta. Ninguém pensou bem sobre isso. Devagar e com muito estímulo começam a me dizer do que precisam: "Atendo clientes ao telefone, e por vezes eles são prolixos ou enrolados e falam, falam, como dar uma cortada nesta conversa sem o cliente se sentir ofendido?". Outro diz: "Faço análises de contratos jurídicos para os clientes internos. As demandas são por email, mas as pessoas não sabem escrever. Além de erros de português, falta de acentuação correta, as pessoas falam, falam, não são objetivas. Não vão direto ao ponto. Não tenho paciência pra gente enrolada." Um outro me explica: "Tenho uma equipe de projetos espalhada geograficamente. Nós precisamos seguir os cronogramas do projeto. É um projeto estratégico. A matriz está de olho. Nada pode sair do planejado. Fazemos reuniões toda a semana, mas tem gente que quer ficar contando detalhes, fazendo mil perguntas, que já foram informadas no escopo do projeto, isso me cansa. As pessoas não entendem que eu preciso que elas façam a parte delas."

Depois de ouvir um por um (também já estressada porque o tempo é pouco), pergunto de chofre:"Então vocês estão aqui para tentar aprender alguma técnica que os ajude a fazer seus interlocutores serem mais objetivos, assertivos e escrever mais corretamente? Querem aprender algo para tornarem os outros melhores?". Outro silêncio sepulcral. Olhares de espanto. Emendo: "qual é a missão o objetivo da sua área?", pergunto a um. "E da sua?", pergunto a outro e assim vou. As pessoas titubeavam, mas acabavam dizendo que existem para atender, para ouvir, para resolver, para alinhar, enfim para ter interações humanas, falar e ouvir. Falar e ouvir com eficiência é uma competência das mais requisitadas no mercado de trabalho e na vida. Muitos de nós, hoje, desenvolvemos várias "doenças emocionais", pelo simples fato de não ter quem nos ouça, quem nos entenda, quem nos acolha! Vide o fenômeno dos suicídios entre jovens no Japão. Um país tão populoso com pessoas tão solitárias! É claro, que a empresa não é (só) um local para acolher pessoas, precisamos de resultados, mas de resultados COM pessoas e não SOBRE ou APESAR de pessoas. Queremos jeitos de melhorar nossos resultados, sermos mais produtivos, nos destacarmos, mas esquecemos que isso se faz por interdependência, em equipe. Não existe mais quase nenhum trabalho sozinho. Precisamos de nossa humanidade, de interação, apoio, aceitação.. isso nos torna humanos. Ser ouvido, participar, sugerir, compartilhar. Todos querem a mesma coisa: ser RECONHECIDOS!

Dito isto, o final da estória, os participantes perceberam que precisamos encontrar uma forma mais humana para nossos resultados. Querer ter mais tempo apressando as pessoas, querendo colocá-las todas na mesma fôrma(rápidas, diretas, objetivas, assertivas), é a contra mão da diversidade, da riqueza, da essência humana.
Encontrar tempo, priorizando o ouvir, o entender, o compartilhar. Fazer de cada contato humano uma oportunidade de troca, de crescimento, de satisfação do cliente. Assegurar que a pessoa sairá de nossa interação um pouco melhor do que chegou. Utopia? Este é o princípio dos "momentos da verdade".
Para que eu possa, num futuro, apressar alguém, cortar uma fala, é preciso que eu tenha contruído uma relação de parceria, de confiança com esta pessoa. Só quando confiamos é que aceitamos ser influenciado e nos deixamos conduzir.
Desta forma, o convite é para que deixemos de querer tantos "como". Pensemos nos nossos "porques".

"Quem tem um bom porque aguenta quase qualquer como" (Fernando Pessoa)

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