domingo, 30 de maio de 2010

Tristeza é depressão?


Na última IstoÉ, de 26/05, há uma entrevista muito interessante do psiquiatra mineiro e professor das Universidades Federal e Estadual do Rio de Janeiro (UFRJ e UERJ), MIGUEL CHALUB, sobre a confusão que reza hoje no mercado entre tristeza, melancolia e depressão. Ele afirma que "O homem moderno não aceita mais ficar triste" e "que qualquer tristeza é tratada como doença psiquiátrica. E que prefere-se recorrer aos remédios a encarar o sofrimento".
Como consequencia da sociedade consumista, imediatista e hedonista que vivemos, onde a velocidade e a superficialidade dão o tom a maioria das atividades (rápido, focado, direto), o homem (e mulher) não quer mais se dar ao trabalho de interiorizar-se para entender seus motivos, seus porques. Diante do primeiro sinal de melancolia ou tristeza- que é um sinal do corpo de que estamos nos distanciando de nossos objetivos ou foco- mesmo que estas sejam oriundas de motivos reais, concretos, o homem não quer mais se permitir viver o luto, dar o tempo necessário para sua alma, através da dor, rever-se, refletir e aprender com a situação, para então, fortalecer-se e amadurecer. Mais fácil correr ao médico (quando não por conta própria) e tomar um ansiolítico, um anti depressivo, para que o mal estar passe logo e ele "se livre" da dor. Como se a dor pudesse "sair" ou sarar, só por que não está mais se manifestando em sintomas físicos - dor de cabeça, aceleração do coração, aperto no peito, sonolencia ou insonia, tristeza, amargura, palpitação, queimação no estomago, tremores e tantos outros nossos conhecidos...

A matéria diz que a OMS (Organização Mundial de Saúde) prevê que em 2030 a depressão será a doença mais comum do mundo, atingindo 121 milhões de pessoas. Para Chalub esta conta é exagerada. Ele defende que tanto pacientes quanto médicos estão confundindo tristeza com depressão. "Não se pode mais ficar triste, entediado, por que isso é imediatamente transformado em depressão", disse o professor.
Chelub afirma ainda que os psiquiatras são os que menos receitam antidepressivos, por que estão mais preparados para reconhecer as diferenças entre "tristeza normal e a patológica".

A IstoÉ pergunta por que tantas previsões alarmantes sobre o aumento da depressão no mundo? e o prof Chalub diz "porque estão sendo computadas situações humanas de luto, de tristeza, de aborrecimentos, de tédio. Não se pode mais ficar entediado, aborrecido, chateado, porque isso é imediatamente transformado em depressão. É a medicalização de uma condição humana, a tristeza. É transformar um sentimento normal, que todos nós devemos ter, dependendo das situações, numa entidade patológica".

A IstoÉ também questiona: A que se deve essa mudança? E o médico responde:"Primeiro, a uma busca pela felicidade. Qualquer coisa que possa atrapalhá-la tem que ser chamada de doença, porque aí, justifica;"Eu não sou feliz porque estou doente, não porque fiz opções erradas". Dou uma desculpa a mim mesmo. Segundo, à tendência de achar que o remédio vai corrigir qualquer distorção humana. É a busca pela pílula da felicidade. Eu não preciso mais ser infeliz.

Mais à frente Miguel Chalub diz: "As pessoas estão desamparadas. Desamparo é uma condição humana, mas temos que enfrentá-lo, assim como o fracasso, a solidão, o isolamento. Não buscar psiquiatras e remédios. Em algum momento, isso pode ficar tão sério, tão agudo, que a pessoa pode precisar de uma ajuda, mas para que a ensinem a enfrentar a situação. Ensina-me a viver, como no filme. Não é me dar pílulas, para eu ficar amortecido.

O médico não diz que os remédios não devem ser receitados e nem que nós devemos suportar sozinhos dores para as quais a medicina já pode nos aliviar. Ele apenas diz sobre os exageros. Assim como o estamos fazendo com a estética. Ser velho é ser fracassado, ultrapassado, cremos. E então, nos esticamos, botocamos, siliconamos, e ficamos amorfos, ridículos, como se o tempo pudesse ser escondido na cara esticada - ESSA OPINIÃO É MINHA E NÃO DO MÉDICO. Não é nos tornarmos mais saudáveis, mas é nos deformarmos. Assim é com os remédios: não é um suporte por um período em que estou elaborando uma questão existencial. É não querer sentir. É querer apagar, livrar-se! Mas, aonde este desejo de adormecer nos levará? O que nos tornaremos? Como estaremos preparados para os percalços da vida, que certamente virão?

Para concluir, o médico diz "A OMS tem uma definição de saúde muito curiosa: a saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social. Essa é a definição de felicidade, não de saúde. Felicidade, para mim, é estar bem consigo mesmo e com o outro. Estar bem consigo mesmo é também aceitar limitações, sofrimentos, incompetências, fracassos. Ou seja, felicidade também é ficar triste de ves em quando.

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