segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Texto do astronauta - Rusty Schweikhart

Lá em cima você completa uma volta a cada hora e meia, volta após volta. Em geral, você acorda pela manhã. E, pela direção da sua órbita, você acorda sobre o Oriente Médio, sobre a África do Norte. Enquanto toma seu desejum, você olha pela janela e lá está o Mediterrâneo, a Grécia, Roma, África do Norte, o Sinai, a área toda. E num passar de olhos você se dá conta de que aquilo que está vendo foi a história da humanidade por muitos anos - o berço da civilização. E, olhando para aquele cenário, você pensa nos fatos históricos que tem guardados na mente. E você atravessa a África do Norte e sobrevoa o Oceano Índico, e observa o grande subcontinente da Índia apontando na sua direção. E o Ceilão ali ao lado, Birmânia, Sudoeste Asiático, mais adiante as Filipinas, e sobrevoa o gigantesco oceano Pacífico, uma colossal extensão de água - você não imaginava que fosse tão grande. E você finalmente passa pela costa da Califórnia e procura aqueles pontos conhecidos: Los Angeles, Phoenix, El Passo, e lá está Huston, lá é o lugar, e você olha e sabe que lá está o seu ponto de conexão. Então você cruza New Orleans e, olhando para o sul, vê toda a península da Flórida. E depois das centenas de horas que você passou voando nessa rota, lá embaixo na atmosfera, todos esses pontos lhe são familiares. E você cruza o Oceano Atlântico e volta a sobrevoar a África. Você tem essa identidade - você se identifica com Huston, com Los Angeles, Phoenix, Nova Orleans e tudo mais. E, de repente, você se dá conta de que está se identificando com a África do Norte. Você espera por ela com ansiedade. E lá está ela. O processo todo começa a mudar sua identificação com as coisas. Quando você dá uma volta em torno da Terra em uma hora e meia, começa a reconhecer que sua identidade é com o todo. E isso muda as coisas. Olhando lá para baixo, você não tem ideia de quantas fronteiras cruzou, muitas e muitas vezes. E elas nem são visíveis. No cenário que você viu ao acordar - o Oriente Médio - você sabe que há centenas de pessoas se matando na disputa por uma linha imaginária que você não consegue ver. Do lugar em que voc~e se encontra, a área é um todo, uma coisa só, e é tão bonita. A vontade é pegar cada lado pela mão e dizer: "Olhem por esta perspectiva. Olhem só. O que é importante?" E pouco depois, seu amigo, a pessoa que está ao seu lado, vai à Lua. E agora ele olha para trás e vê a Terra não como uma coisa grande onde se pode ver os detlhes, mas como uma coisinha lá longe. E então o contraste entre o azul e o branco daquele enfeite de árvore de Natal e o negro do céu, daquele universo infinito, realmente se revela. O tamanho dela, a significancia dela- ao mesmo tempo em que ela parece tão frágil e tão pequena, uma manchinha preciosa no universo, que você pode tapar com seu polegar, e você se dá conta de que naquela manchinha, naquela coisinha azul e branca está tudo que você conhece e que tem alguma significância para voc~e. Toda historia, música, poesia, arte, guerra, morte, nascimento, amor, lágrimas, alegria, brincadeiras, tudo isso está naquela manchinha que voc~e pode tapar com seu polegar. E você compreende que aquela perspectiva... que você mudou, que há algo novo ali. A relação não é mais a que era. E então você se recorda dos momentos que passou lá fora em atividade extraveicular, devido a um defeito da câmara, aqueles poucos momentos em que você teve tempo para pensar no que estava acontecendo. E você se recorda de ficar contemplando o espetáculo que se passava diante dos seus olhos. Porque agora você não está mais dentro de uma coisa admirando o cenário pela janela, mas está lá fora, com um aquário na cabeça, num lugar em que não existem fronteiras.

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