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quinta-feira, 1 de março de 2012
“Já falei mais de mil vezes, mas não adiantou!”
Fonte: NeuroLeardership Group
Alguma vez você já disse “Já falei mais de mil vezes, mas não adiantou!”. Quer saber porque não adiantou?
Feedback e a neurologia da aprendizagem
Por que damos feedback pro outro? O positivo para reconhecer o sucesso e o negativo, em teoria, para promover a mudança positiva no outro. Em teoria porque não sempre é esta a predominante motivação. Infelizmente, e mais frequentemente do que gostaríamos, feedback negativo é dado como forma de desabafo ou para ferir o outro. A verdade por raiva, em vez da verdade por amor. Mas vamos aqui ignorar esses momentos negros e trabalhar com a ideia que damos feedback negativo porque queremos que o outro passe a fazer algo de forma diferente. É realista esta expectativa?
Pesquisas de neurociência mostram claramente que o cérebro aprende tudo por meio de um processo iterativo de tentativa e erro, que se repete, com pequenos ajustes a cada ciclo, até conseguir o acerto. Lembra daquela brincadeira de criança onde prende-se na parede o desenho de um burrinho e alguém, com os olhos vendados, tenta colocar um rabo de lã no lugar certo no burrinho? O que é preciso para conseguir-se? Certamente é preciso que outra pessoa dê informações sobre o quão perto ou longe o jogador chegou do alvo, para que este a cada tentativa possa alterar o ponto monitorando se está se aproximando ou afastando do alvo. Isso é feedback negativo: nada mais que informação sobre a distância entre o objetivo e o resultado.
Se não houver esse feedback, o jogador ficará tentando colocar o rabo em diversas posições e provavelmente nunca acertará. Pior, se por azar, acertar, não terá como saber, e passará do ponto.
Mas se alguém for lhe dando feedback ele seguramente vai se aproximar do ponto certo e eventualmente o achará. Neste momento vai precisar que esse alguém lhe diga “acertou” para saber que não precisa mais continuar tentando. Isso é feedback positivo: a informação de que a distância entre objetivo e resultado é zero.
O cérebro funciona da mesma maneira. Na aprendizagem, feedback negativo e positivo são fundamentais. O negativo serve para que o cérebro saiba que ainda não acertou e portanto precisa mudar algo na forma de fazer e tentar de novo. O positivo serve para que saiba que acertou e assim gravar a forma de fazer que deu certo.
Sempre que damos feedback negativo sobre algo que ainda não foi bem feito, estimulamos a aprendizagem. Sempre que damos feedback positivo sobre algo que foi bem feito consolidamos o aprendizado. Em ambos os casos o feedback precisa ser eficaz, o que não é nem fácil nem usual.
Não vamos aqui entrar na questão de como dar feedback eficaz, mas podemos analisar o que é eficácia quando falamos de feedback.
Posto, como vimos acima, que o propósito do feedback é apoiar a aprendizagem, ou a mudança positiva em termos mais latos, podemos afirmar que eficaz é aquele feedback que realiza isso. Ou seja, se como dizem os ingleses “a prova do pudim está em comê-lo”, saberemos se o feedback foi eficaz se resultar em mudança positiva. Ora, uma frase que ouço frequentemente é “já falei a mesma coisa mais de mil vezes mas não adianta, ele não muda…” ou algo que o valha. Apesar da ineficácia do feedback estar patente na constatação que mais de mil vezes não surtiram efeito, as pessoas costumam culpar por isso o outro e não a má qualidade do feedback que deram mais de mil vezes.
Uma das grandes verdades da vida é que mais do mesmo só resulta em mais do mesmo.
Se um, um só e mísero, feedback não resultou em nenhuma mudança, nenhuma mesmo, por mais mínima que seja, então não vai ser o segundo dado da mesma forma que vai resultar; nem o segundo nem o milésimo. Ou seja, a pessoa que se queixa que o outro não aprende, não aprende ela mesma apesar de mais de mil insucessos.
A diferença entre um processo por tentativa e erro e um por repetição e erro é que o segundo não produz mudança, mas produz muita frustração, desanimo, raiva, etc.
Se já falamos algumas vezes e nada mudou, em vez de continuar repetindo e antes de culpar o outro cabe fazer uma auto-análise.
O que falamos várias vezes contém, de fato, informação sobre a diferença entre a expectativa e o resultado? Trata-se da expectativa de quem, a nossa ou a do outro? Verificamos se essas são iguais ou, ao menos compatíveis? Temos certeza total de que nada mudou? Qual seriam possíveis formas diferentes de falar com o outro? O que vamos fazer de diferente na próxima ocasião?
É muito provável que uma simples análise como essa já ajude a melhorar a eficácia do feedback.
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