quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Peça perdão, não permissão


Essa saiu ontem no Canal RH.

Peça perdão, não permissão”, aconselha especialista em criatividade para quem quer inovar

por Lucas Toyama
Um conselho que Paul Bennett, um dos maiores especialistas em inovação no mundo, dá para quem pretende inovar é: “Peça perdão, não permissão”. Ele logo ressalta que não defende a anarquia. “Mas é importante promover a cultura na qual as pessoas possam ser elas mesmas, ajam de forma autêntica e tragam suas ideias sem receio”. Bennet é diretor Criativo e um dos sócios executivos da consultoria de design e inovação IDEO, que, segundo a revista BusinessWeek, é uma das 25 empresas mais inovadoras do mundo. Todas as outras 24 a contratam como consultora de inovação.
Bennett também foi o responsável por levar a empresa para a China e por abrir o escritório de Nova York, e hoje comanda a sede de Londres. Ele será um dos palestrantes da TEDx Amazônia. O evento, que ocorre nos dias 6 e 7 de novembro, em um auditório flutuante no Rio Negro, é a segunda versão brasileira da TED, conferência que surgiu em 1984, e é hoje o maior evento sobre inovação do mundo.
Antes de chegar ao Brasil, Bennett, que respira inovação, conversou com o Canal Rh, quando analisou várias questões sobre empresas inovadoras e deu muitas dicas.

Canal Rh: Existe hoje algum exagero em torno do tema inovação?
Paul Bennett: A palavra inovação está se banalizando pela superexposição do tema. É por isso que não falo muito sobre isso, mas mostro exemplos de sucesso, de produtos que desenhamos e mudaram a vida de pessoas. Muita retórica e conversa são um problema, quando ficam apenas nisso.

Canal Rh: Temos um problema, então? As empresas estão, de fato, mais inovadoras na prática ou apenas na teoria?
Bennett: Não acredito que seja apenas no papel. Fico muito satisfeito de observar que inúmeras companhias globais estão usando a inovação como uma forma de crescer e de sustentar seus negócios.

Canal Rh: Quais as principais dificuldades enfrentadas pelas empresas em relação à inovação?
Bennett: Tenho duas teorias. Uma é sobre hierarquia. Inovação exige alinhamento e engajamento de todos os níveis da organização: o topo deve estar ativamente envolvido, assim como a parte do meio e a base da pirâmide. Se um profissional acha que será demitido por algum superior por ter tido uma ideia que não obteve o êxito esperado, então nada mais vai acontecer e o processo de inovação simplesmente desaparece da empresa. O peso da hierarquia deve ser diminuído, caso o objetivo da empresa seja permitir que a inovação floresça. Essa lógica resulta em meu segundo ponto: o de aprender com o fracasso. Isso deve fazer parte do processo e é parte importantíssima da inovação. Portanto, a organização deve criar um ambiente onde as pessoas se sintam confortáveis em ousar e sejam recompensadas por tentar.

Canal Rh: Como um companhia cria um ambiente inovador?
Bennett: Gosto de uma frase que uso muito: “Peça perdão, não permissão”. Claro que não estou defendendo a anarquia, mas é importante promover a cultura na qual as pessoas possam ser elas mesmas, ajam de forma autêntica e tragam suas ideias sem receio. Não estamos falando de ter grandes cadeiras e máquinas de café incríveis, mas de criar efetivamente uma cultura que deve preconizar a curiosidade e o otimismo.

Canal Rh: Os líderes devem ter algum tipo de treinamento especial para lidar com equipes criativas?
Bennett: A ideia de treinamento especial me aterroriza. Para ser direto, os líderes precisam ser parte da equipe criativa. Simples assim.

Canal Rh: A Economia Criativa é possível num país como o Brasil ,cuja economia é baseada principalmente em commodities?
Bennett: Minha experiência em Brasil é a de que existe, no País, engenhosidade e empreendedorismo - pilares da Economia Criativa. Aqui, todo mundo está fazendo alguma coisa, às vezes muitas coisas, tentando, experimentando, falhando, obtendo sucesso, aprendendo, se divertindo. Os brasileiros são naturalmente otimistas e criativos e esse é um começo e tanto.

Canal Rh: Qual a importância da inovação em tempos nos quais a informação se propaga rapidamente e, assim, copiar já não é uma tarefa tão difícil?
Bennett: Há dois pontos nessa questão. Um é sobre o conceito de transparência, algo realmente importante para as organizações que, hoje, não têm escolha: precisam praticá-la. Consumidores, agora, têm uma expectativa de que podem ver o que acontece dentro da companhia, entender suas intenções e contribuir, de alguma forma, para seu futuro. Isso se aplica a todos os níveis e a todos os setores, para empresas ou para países inteiros onde, aliás, a ideia de governança “atrás das portas fechadas” está completamente falida.

Canal Rh: E qual o segundo ponto, além da transparência?
Bennett: O segundo ponto é que há, de forma evidente, uma preocupação com essa questão da cópia, ou de vazamento de informações e, nesse sentido, as empresas se protegem contra isso. Mas, realmente, será que o fato de o novo iPhone 4 chegar às mãos das pessoas antes de ser efetivamente lançado prejudicou a Apple de forma significativa? Eu acho que não. Marca é ainda uma das ferramentas mais poderosas e não pode ser copiada verdadeiramente. Jamais.

Canal Rh: A criatividade pode ser adquirida, desenvolvida e aprimorada ou é algo com a qual se nasce e ponto?
Bennett: Criatividade está relacionada a dois pontos fundamentais: curiosidade e otimismo. As empresas precisam propiciar um ambiente que estimule. Assim, as metodologias devem ser formatadas para ajudar no processo de autoconhecimento e valorizá-lo. Precisamos gastar um bom tempo para conceder às pessoas a permissão para explorarem suas potencialidades, sem julgamento, e possibilitar que vejam o mundo com olhos de alguém curioso. É preciso incentivar que se quebrem paradigmas, perguntem e, acima de tudo, divirtam-se.

Canal Rh: Por que o senhor acredita que a IDEO está entre as companhias mais inovadoras do mundo?
Bennett: Nós somos muito dirigidos para sermos uma organização que trabalha com a ideia de criar impacto. Queremos que aquilo que criamos – sejam produtos, serviços, experiências ou sistemas – impacte efetivamente no mundo, nas pessoas, companhias, comunidades -- econômica, social e ambientalmente. Eu acredito que essa intenção coletiva atrai pessoas criativas e clientes a trabalharem com a gente. E é muito importante destacar, nesse sentido, que processos são replicáveis, mas crenças, não.

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