quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Jeito Carioca de gerir equipes



Gente amiga, acabo de chegar do Rio, minha terra natal e amada. Estive lá por 3 dias fazendo uma série de entrevistas com gestores de uma importante empresa, a fim de identificar necessidades de capacitação.
Por uma destas coincidências (?) da vida,ao chegar em casa, encontro um artigo muito bacana falando do Jeito Carioca de gerir equipes, do prof Luiz Moura, que inclusive, lançou o livro acima. Por que uma feliz coincidência? Porque a referida empresa que eu estava trabalhando, tinha levado para SP, a uns 8 anos atrás, uma área inteira, carregando consigo uma dúzia de cariocas para Sampa. Agora, passado este tempo, a empresa resolveu trazer a área de volta e, consequentemente, um punhado destes cariocas estão de voltas. Quase todos radiantes. Também vieram uns paulistas para cá. Uns estão felizes como "pinto no lixo", outros nem tanto. E, apesar de não ser o foco da entrevista, conversamos muito sobre esta adaptação (ou inadaptação) e pude ouvir argumentos e motivos de paulistanos estarem ou não se adaptando ao Rio e de cariocas que adoraram ou odiaram morar em São Paulo. Pensei muito sobre isso. Bateu certeiro em mim. Afinal, também sou uma carioca morando em Sampa e tudo o que diziam os felizes e os infelizes, me tocava fundo. Verdade que ainda não sei bem de que time sou. Ora amo São Paulo. Ora odeio. Idem para o Rio. Mas, vejam o artigo do prof. Luiz Moura. Ele chegou a estas conclusões baseando-se em pesquisas. E antes que me chamem de bairrista, ele pretende lançar o estilo mineiro e paulistano de gestão, em breve.

No Rio é assim:

* Ambiente de trabalho descontraído
* Informalidade na relação com os subordinados
* Cobrança dura acompanhada de brincadeira que reduz a tensão da exigência
* Uso da autoridade com mais leveza, sem autoritarismo
* Liderança exercida pelo exemplo, pelo convencimento
* Espírito mais conciliador do que impositivo
* Flexibilidade para modificar planos previamente traçados
* Sensibilidade para compreender o subordinado integralmente, não apenas profissionalmente.
* Cordialidade nos relacionamentos profissionais.

Especialista em gestão e RH, Moura conversou com 28 executivos. Buscou lideranças não apenas no universo corporativo: entre os entrevistados estão o técnico de vôlei Bernardinho, o carnavalesco Laíla e uma amiga do autor, Mariza Alves, que foi síndica, durante 12 anos, de um grande condomínio na Barra da Tijuca.

"Eles lideram equipes das quais se exigem grandes performances. Laíla faz espetáculos com 4 mil figurantes. Bernardinho treina grupos de atletas de quem se espera o máximo de rendimento. Mariza administrou um condomínio onde vivem cerca de 2 mil pessoas. É como estar à frente de uma empresa", diz Luiz Moura, carioca de Vila Isabel, mais de 40 anos de experiência em gestão.

A seleção privilegiou os cariocas natos, incluindo ainda quatro gestores que adotaram a cidade, e também representam a cultura do Rio de Janeiro, como a presidente da seguradora Icatu Hartford, Maria Sílvia Bastos, nascida no interior do estado, que se mudou para a capital na juventude. Apenas uma entrevistada vive fora do Rio, a delegada da Polícia Civil paulista Sandra Claro.

"Sandra radicou-se em São Paulo, mas mantém a flexibilidade e o sotaque típicos da cultura carioca", diz Moura. Sua seleção, porém, não é uma exaltação do estilo carioca de administrar, mas a constatação de um perfil de gestor. Ele pretende traçar o perfil de mineiros e paulistas na gestão de pessoas em outros livros.

Mesmo atuando em áreas diferentes, os entrevistados apontaram a intensa relação com a cidade, por meio do uso de espaços públicos, como fator de primeira importância na formação do seu modo de ser e agir. A convivência de diferentes categorias sociais, tanto nas praias da Zona Sul, como nas ruas e praças das outras regiões, hoje os ajuda a romper com a sisudez do ambiente profissional.

"Asfalto e morro sempre se encontram no Rio e isso é uma experiência que favorece o gestor carioca no encontro com sua equipe. Ele sabe se dirigir a todos os tipos de pessoa. Quem é de fora percebe a flexibilidade na capacidade de superação e de enfrentar adversidades, sempre temperadas com um calor humano que caracteriza o carioca", diz Moura.

O bairrismo carioca, a valorização do que se faz e do que acontece na cidade, também é percebido como positivo pelos executivos, por demonstrar o entusiasmo que caracteriza os moradores do Rio.

No livro de Moura, a cidade aparece como referência para todos os entrevistados. "O Rio é cultuado por seus moradores. Quase todos têm muitas atividades ao ar livre. Bernardinho foi me encontrar de bicicleta. Ele se alimenta da natureza, assim como muitos executivos não dispensam uma caminhada na praia antes de trabalhar ou no fim do expediente. Isso ajuda a relaxar, a suportar pressões e favorece a competição sem tanto stress", acredita Moura.

A exuberância natural dos cariocas, no entanto, ainda causa estranheza aos profissionais estrangeiros que chegam à cidade. Segundo Ana Lúcia Vales Domingues Macedo, mestre em Letras pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), o carioca ainda parece invasivo e efusivo demais para quem não conhece os códigos da cidade. "Isso chega à esfera profissional, embora normalmente os cariocas sejam mais contidos no trabalho. A informalidade sempre existe, mas é menor", diz Ana Lúcia, que é professora de português para estrangeiros e observa aspectos de tratamento social no Rio de Janeiro em sua dissertação de mestrado ("Para depois do elogio - um estudo sobre a polidez carioca").

Moura concorda que a informalidade carioca respeita os limites do escritório. "Essa história de dizer que no Rio todo mundo passa o dia na praia já saiu de moda. O carioca cumpre prazos e quer alcançar resultados, como todos os outros profissionais." De acordo com Ana Lúcia, se a princípio os estrangeiros que vêm trabalhar no Rio se assustam com o que consideram excesso de intimidade dos cariocas, aos poucos eles são conquistados pela cultura da cidade. "A grande maioria se rende à interação, mesmo estranhando, a princípio, os cumprimentos com abraços e beijos. O único aspecto que jamais compreendem é o hábito de as pessoas serem extremamente calorosas com desconhecidos aos quais nunca mais encontrarão na vida. Eles levam a sério o famoso 'a gente se vê', que não sai do discurso e que é quase uma forma de cortesia carioca", diz Ana Lúcia.


Mas, o mais interessante que ouvi de um carioca que retornava, desta tal empresa, é que quando ele comparava a equipe dele em Sampa com a do Rio, percebia assim:
"Sabe o time de futebol do São Paulo? Os caras são sérios, profissionais, treinados, sabem se portar, dar entrevista, passam uma imagem bacana do que é o futebol, né? Tem excelentes resultados. Não há dúvida de que é um sr time. Assim é a minha equipe de São Paulo. Mas, já viu o time atual do Santos? Os moleques são bagunceiros, irreverentes, indisciplinados, alegres, unidos, batem um bolão, jogam fácil, né? Parece que comem bola e que não precisam do técnico. É isso. Meu time do Rio é assim."

2 comentários:

  1. Adorei o post. Acho muito legal o trabalho de pessoas como o Moura q ajudam a quebrar esse tabus! Fora que, como quase toda carioca, tenho muito orgulho da minha terra (;
    Achei muito legal a comparação do seu entrevistado também, muito bom trabalho!
    bejios

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  2. Adorei o texto. Vou recomendar para outras pessoas - gestores cariocas - lerem.
    Bjs!

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